sábado, 6 de abril de 2013

INSPIRAÇAO ETERNA.....FRIDA!!!!


Magdalena Carmen Frida Khalo y Calderon Rivera é, na minha opinião, uma inspiração para a vida toda. Não só pela sua arte, que eu adoro, como também pela sua personalidade, suas idéias, suas crenças, sua força e seu estilo de vida. E como fã que sou, bastou ver que a biografia de Hayden Herrera [aquela na qual foi baseado o filme de 2002, com Salma Hayek) já estava disponível numa prateleira da Livraria Cultura [o livro é de 1983, mas só agora foi lançado no Brasil], pra levar pra casa e colocar todas as outras leituras na fila de espera.
De tudo o que li até agora [num ritmo de alfabetização, com pena do livro acabar – alô, felicidade clandestina], o trecho que mais me emocionou fala sobre o modo de vestir de Frida, como ela escolhia suas roupas e acessórios, como penteava o seus cabelos, o porquê dessas escolhas e a relação de tudo isso com a estética da sua arte.
Admito que é um trecho longo para um blog [nesses nossos tempos de 140 caracteres], mas é também extremamente interessante para quem se interessa por arte, estética, moda e comportamento. Ou pra quem simplesmente é tão fã dessa mulher que “deu à luz a si mesma” quanto eu.
“Claramente, não foi a informalidade boêmia que instigou Frida a usar em seu casamento roupas emprestadas de uma criada indígena. Quando optou por vestir as roupas tehuanas, Frida estava escolhendo uma nova identidade, o que ela fez com todo o fervor de uma freira que toma o véu. Mesmo em menina, para Frida as roupas eram uma espécie de linguagem, e a partir de seu casamento as intricadas relações entre roupas e autoimagem, e entre estilo pessoal e estilo de pintura, formam uma das tramas secundárias do desenrolar de seu drama. O traje que Frida decidiu adotar era o das mulheres do istmo de Tehuantepec, e as lendas em torno delas sem dúvida informaram sua escolha: as mulheres de Tehuantepec são famosas por serem imponentes, sensuais, inteligentes, corajosas e fortes. Segundo o folclore, vivem em uma sociedade matriarcal, em que as mulheres dirigem os mercados, cuidam das questões fiscais e dominam os homens. E a roupa é linda: um blusão bordado e uma saia comprida, geralmente de veludo vermelho ou púrpura, com uma prega de algodão branco na bainha. Os acessórios incluem correntes de ouro e colares de moedas de ouro, que constituem o arduamente conquistado dote das moças, e, em ocasiões especiais, um primoroso adorno de cabeça com plissês rendados e engomados, semelhantes a um rufo elisabetano de tamanho fora do comum.
Às vezes, Frida usava trajes de outras épocas e lugares; às vezes, misturava elementos de diferentes trajes em um conjunto cuidadosa e harmoniosamente combinado. Ela podia usar huaraches (sandálias) indígenas ou botinhas de couro do tipo usado nas províncias do início do século, bem como pelas soldaderas que tinham lutado junto de seus homens na Revolução Mexicana. Às vezes, quando posava para a fotógrafa Imogen Cunningham, Frida enrolava o rebozo em torno do corpo, à maneira de uma soldadera. Em outras ocasiões, envergava um lenço de seda espanhola, ricamente bordado e decorado com franjas. Camadas de anáguas, em cujas bainhas a própria Frida bordava ditos populares mexicanos obscenos, conferiam a seu andar graciosidade e balanço especiais.
Para Frida os elementos do vestuário eram uma espécie de paleta, da qual ela selecionava a cada dia as imagens de si mesma que queria apresentar ao mundo. As pessoas que assistiam ao ritual com que Frida se vestia lembram o tempo e o cuidado que ela dedicava ao ato de escolher as roupas, de seu perfeccionismo e precisão. Muitas vezes, com uma agulha nas mãos, ela improvisava antes de colocar uma blusa, acrescentando uma fita aqui, uma renda acolá. Decidir que cinto combinava com que saia era uma questão séria. ‘Funciona?’, ela perguntava. ‘Ficou bom’? ‘Frida encarava com uma atitude estética o ato de se vestir’, recorda a pintora Lucile Blanch. ‘Ela estava pintando um quadro completo, com cores e formas.’ Para acompanhar os trajes exóticos, Frida arrumava os cabelos em diversos estilos, alguns penteados típicos de certas religiões do México, alguns de invenção própria. Ela puxava os cabelos pra trás, às vezes com tanta força nas têmporas que chegava a doer, e depois amarrava ou trançava com fitas coloridas de lã e decorava com tiaras, faixas, grampos ou primaveras frescas. (…)
Frida adorava jóias, que desde os primeiros dias de casados Rivera lhe dava em profusão, como se dedicasse oferendas à uma princesa indígena. Ela usava jóias de todo tipo, de contas de vidro baratas e pesados colares pré-colombianos de jade, de adornados brincos pendentes e coloniais a um par no formato de mãos, presente que ganhou de Picasso em 1939. Seus dedos exibiam um desfile de anéis em constante mudança, com peças de diversos estilos e origens. Em gestos de generosidade impulsiva, as pessoas davam-lhe anéis de presente, e Frida os distribuía com a mesma prodigalidade. (…)
Sempre uma forma de comunicação social, com o passar dos anos as roupas de Frida se converteram em antídoto contra o isolamento; mesmo no fim da vida, quando estava muito doente e recebia pouqíssimas visitas, ela se vestia com o apuro de quem se preparava para ir a uma festa. Assim como os autorretratos confirmavam sua existência, as roupas faziam com que a mulher frágil, quase sempre presa à cama, se sentisse mais magnética, mais visível e mais enfáticamente presente como objeto físico no espaço. Paradoxalmente, eram uma máscara e uma moldura. Uma vez que definiam a identidade de quem as usava em termos de aparência, as roupas distraíam Frida – e o observador – da dor interior. Frida dizia que as usava como por ‘coqueteria’; ela queria esconder as cicatrizes, ocultar a perna manca. A esmerada embalagem era uma tentativa de compensar as deficiências do corpo, seu senso de fragmentação, dissolução e mortalidade. À medida que sua saúde foi declinando, fitas, laços, flores e jóias foram ficando cada vez mais elaborados e coloridos. Em certo sentido, Frida era como uma piñata mexicana, uma frágil gamela, em geral de papel machê, cheia de balas e doces, no formato de estrela e toda enfeitada com balangandãs e lantejoulas, mas destinada a ser esmagada. Pendurada por uma corda, a piñata fica a mercê dos golpes de crianças de olhos vendados, que têm de acertá-la com um cabo de vassoura até que a gamela se rompa e as balas caiam. Assim era Frida, recebendo da vida pancada atrás de pancada. Enquanto a piñata dança e balança, o conhecimento de que ela está prestes a ser destruída torna ainda mais pungente sua beleza colorida. Da mesma maneira, a decoração de Frida era comovente: era a um só tempo uma afirmação de seu amor pela vida e um sinal de sua consciência – e de sua atitude de desafio e rebeldia – da dor e da morte.”

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